16 de fev. de 2010

Entrevista

O ex-presidente e conselheiro do Atlético Paranaense, Mário Celso Petraglia, concedeu uma entrevista interessante ao jornal Gazeta do Povo, de Curitiba. Fala de estádio, copa do mundo, desequilíbrio entre os clubes brasileiros, federações estaduais e muitas outras coisas. Destaquei alguns pontos:

Investimento público nos estádios da Copa
Eu acho que será 100%. E é investimento público, público. Quem tomará o financiamento não vai ser a iniciativa privada, vai ser go­­verno, para facilitar seu fluxo de caixa, seus orçamentos, para diluir isso em 10, 15, 20 anos. O investidor será o poder público.

Saúde, educação, segurança x Copa do Mundo
Esse é um ponto que gera muitas críticas. A imediata é a de prioridades de investimento. Ao invés de investir em estádio, que se in­­vista em saúde, educação, segurança. Isso é uma visão extremamente mío­pe. Quem levanta esse tipo de coisa não sabe o que é uma Copa do Mundo. Segundo estudos de viabilidade apresentados ao governo brasileiro, cada R$ 1 investido na Copa do Mundo tem R$ 10 de retorno no período de amortização do investimento. É prioridade zero o Brasil trazer uma Copa do Mundo, assim como a Olimpíada. Você não organiza um país para receber uma Copa do Mundo. Você recebe uma Copa do Mundo para reorganizar alguns setores do país.

Futebol não é qualidade de vida
O futebol paranaense, nos 100 anos de existência, sempre foi considerado de segunda classe. Quando as cinco cidades previamente foram escolhidas (como subsedes da Copa) – Brasília, Rio, São Paulo, Be­­lo Horizonte e Porto Alegre –, eu dizia ao Ricardo Teixeira: “Pre­­si­dente, por que não Curitiba?”. E ele: “Mário, qual é a representatividade que vocês têm no futebol? O que vocês representam no futebol nacional para ser naturalmente escolhido? É futebol que nós va­­mos disputar, não é qualidade de vida”.

Futebol paranaense
Nós crescemos em razão de um momento pontual, muito mais pelo enfraquecimento dos considerados grandes do que pela nossa força. Os grandes começaram a se reorganizar, se mexeram. Nós não temos estrutura nem condição de orçamento para estar en­­tre os maiores clubes brasileiros.

Dinheiro x resultado
A performance em campo, atualmente, é diretamente proporcional ao fluxo de caixa. Em 39 anos, o São Paulo tem seis títulos brasileiros. Em 35 anos, ganhou três. Nos últimos quatro anos, três. E quase foi de novo. Como nós, com um orçamento cinco, seis vezes me­­nos, vamos concorrer em uma atividade extremamente profissional, de altíssimos valores envolvidos, na mesma competição?

Times de segunda lutando para ser de primeira
Se não tiver alguma coisa realmente moderna, visionária, revolucionária, que una esforços, que crie a mais valia, alavanque receitas, vamos voltar na proporção àquilo que sempre fomos: times de segunda lutando para ser time de primeira. O Paraná Clube, com esse orçamento, não será nunca um clube de primeira. Pode até por um mo­­mento, num vento favorável subir, empinar lá (risos)... a pipa. Mas depois vai cair. Há uma atenção muito grande para que o Brasil não vire uma Inglaterra, uma Espanha, uma Itália, onde começa o campeonato e a gente já sabe que A, B ou C será o campeão e os outros, coadjuvantes.

Curitiba comporta três clubes?
Zero, zero. (desenha dois retângulos paralelos em um flip chart, representando as Séries A e B do Brasileiro). Anti­ga­mente, eram 24, primeira e segunda. Agora são 20 com tendência de ser 18, deixa passar Copa, isso vai diminuir mais ainda. A distância dos primeiros para esses aqui (parte baixa do gráfico) fica impraticável. Quando nós pegamos o Atlético, estava aqui (aponta a Série B no gráfico). Éramos menores que o Ju­­ven­tude, Portuguesa, os principais do Nordeste, todo o interior de São Pau­lo.

Os 12 grandes clubes
Começo desse século, pelo buraco havido aqui, ocupamos um es­­paço que não era nosso. São 12 grandes clubes brasileiros de faturamento hoje, o Atlético está aqui (rabisca o número 13). Não tem ne­­nhum clube que fature mais do que nós fora esses 12. Esses 12 es­­tão se reorganizando, vão ocupar isso aqui de novo, então nós vamos ficar aqui, no nosso lugar. Qual é a tendência se não fizer nada? (Bate na Série B três vezes). Isso é aritmético. É surpresa o Paraná estar aqui? Não é. A tendência do Paraná, com a reorganização de alguns estados e clubes... Terceira Divisão (desenha um terceiro retângulo). Daqui pra cá e daqui pra lá (aponta a flutuação entre as Séries B e C). Não aqui (Série A). Acabou. Nós temos 12. Atlético, Coritiba, Goiás, a volta do Guarani, Ponte Preta. O que vai sobrar para o Paraná? Nordeste, Bahia, Forta­­leza, tudo com estádio novo, se re­­or­ganizando. Esqueça. Quem não tiver essa visão do que está acontecendo, estará morto.

Federação
Não existe. É um modelo falido, que vem do Estado Novo, da Era Vargas. Não significa mais nada. Os clubes profissionais dos estados não existem mais, estão falidos, os Estaduais acabaram. Já deviam ter sido excluídos do nosso calendário há muitos anos. Só serve para a satisfação das federações e seus feudos. Federação não contribui com nada, só ex­­plora os clubes. Para que nós precisamos da Federação Parana­ense de Futebol? Me dê uma ra­­zão. Registro é na CBF. Para quê? Para organizar o Estadual?
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