12 de abr. de 2013

Para reflexão

Nesta série, em que a PLURI aborda a crise de público nos estádios Brasileiros, passamos à análise do comportamento do preço dos ingressos no Brasil e seu patamar atual em relação ao mercado internacional. Hoje abordamos a trajetória dos preços dos ingressos nos últimos 10 anos, amanhã mostraremos a comparação entre o preço praticado no Brasil e nos principais mercados internacionais.
Nossa pesquisa se refere ao preço médio dos ingressos mais baratos praticados pelos 20 clubes que disputam a série A, para adultos, sem promoção ou meia entrada.
Sobre o assunto, algumas considerações:
- O preço dos ingressos mais baratos subiu 300% nos últimos 10 anos, período em que a inflação (medida pelo IPCA-IBGE) foi de 73%, a Cesta Básica subiu 84% e o Salário mínimo aumentou 183%;
- Quando convertemos o preço dos ingressos para US$, a alta foi ainda maior, de 506% no período, e em Euros atingiu 594%. Isso ocorreu pela valorização do Real frente a essas moedas no período;
- Apesar de entendermos que o preço dos ingressos não é o único responsável pelo esvaziamento dos estádios brasileiros, certamente é um dos mais relevantes;
- Não cabe aqui a discussão sobre a futura política de preços a ser praticada nos novos estádios brasileiros ou uma suposta tentativa de elitização em andamento, mas apenas uma constatação de que essa alta ocorreu em um ambiente de jogos de baixa qualidade, disputados em estádios em situação precária. Ou seja, oferece-se um produto de qualidade cada vez pior, a preços crescentes, em um cenário em que as opções de entretenimento para o torcedor são cada vez maiores;
- Alguns argumentos tentam justificar essa estranha situação. Um deles é a de que os preços baixos “desvalorizam o produto”. Mas tem algo pior para o futebol do que um jogo ruim disputado em estádio vazio?;
- Outro argumento utilizado com freqüência é o de que são necessários ingressos mais caros em função do aumento do custo do futebol no período. Ótimo, só esqueceram de perguntar ao torcedor se ele concorda em pagar essa conta, e está claro que ele não concorda. Aliás, lembrando sempre que esse torcedor é um cliente;
- Tem também o argumento de que o preço tem que ser alto para estimular o torcedor a se tornar sócio do clube. Isso funciona apenas para uma parcela de torcedores, e costuma estar diretamente atrelado ao momento do time. Ou seja, quando a fase é boa, o estádio enche, quando é ruim, volta a ficar vazio. Ingressos proibitivos não permitem que o torcedor crie vínculos com o time e desenvolva, com o tempo o desejo de se tornar sócio não apenas pela vantagem financeira, mas também pela experiência de ir ao jogo. Com isso ele se mantém afastado, assistindo de casa, afinal é mais barato e confortável. E vai se afastando cada vez mais do seu time;
- Além da vantagem do preço, é a perspectiva de não conseguir lugar disponível nos estádios que leva o torcedor a se associar ao clube. A Europa tem exemplos de sobra neste sentido;
- De fato, alguns clubes tem sido bem sucedidos em aumentar o preço dos ingressos e mesmo assim ter alta demanda, é o caso de Atlético-MG e Corinthians. São exceções que confirmam a regra. A maioria esmagadora trabalha com a rotina de estádios quase desertos;
- Ao praticar pecos tão altos, o torcedor toma uma decisão racional de consumo, escolhendo ir apenas aos jogos mais importantes. Isso explica a grande quantidade de partidas com público muito baixo, e a presença de público maior em um oudois jogos, geralmente as finais, já que nem os clássicos conseguem mais mobilizar os torcedores;
 Já que é possível provar que o torcedor “escolhe” os jogos que ele vai assistir no estádio (há dados para isso), porque não se pratica uma política de preços agressivamente flexível no Brasil, ajustando os preços à qualidade e importância dos jogos? Algo semelhante ao que se faz com o preço das passagens aéreas? Ou,
porque não se faz como é comum na Europa, com classes de jogos com preços diferentes? Exemplo: jogos comuns de campeonatos estaduais deveriam ter “grande” desconto;
- Encher o estádio deveria ser prioridade total do clube, mesmo que para isso seja necessário praticar preços de ingressos mais baixos inicialmente. Sabemos que há uma correlação direta entre interesse de mídia e de patrocinadores, com jogos em estádios cheios (e o inverso também é verdadeiro, atenção!).
Portanto, “casa cheia” potencializa outras receitas dos clubes. E o aumento da demanda leva à escassez, que aí sim, permite o aumento de preços;
- Apesar do crescimento econômico verificado nesta última década, nunca é demais lembrar que o Brasil continua a ser um país de salário mínimo de R$ 678, e renda per capita equivalente a cerca de 1/3 da Européia;
- Existe um preço de equilíbrio que ajusta oferta e demanda de um produto. No Brasil o preço dos ingressos não é decidido tendo como base nenhum tipo de estudo ou análise mais profunda (‘pricing”), e sim por uma simples arbitragem feita por dirigentes de federações e clubes. É certo, porém, que estamos fora desse preço de equilíbrio, não fosse por isso os estádios não eram tão vazios;
- O Futebol Brasileiro revogou a Lei da oferta e da procura. Por aqui, quanto mais vazio os estádios ficam, mais o preço dos ingressos sobe.

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2 comentários:

Anônimo disse...


Camilo disse:

A reflexão abordada tem sentido. Vivemos num país em que a maioria da população é assalariada, e, é justamente essa classe que mais gosta e frequenta os estádios. Não podemos, por exemplo, culpar apenas a transmissão dos jogos ao vivo, mas, citamos também a falta de segurança, as péssimas condições de estrutura dos estádios, principalmente para o público feminino. Outra coisa também que deve ser bem analisada é a questão das arbitragens, pois depois do que fez Edilson perguntamos: O resultado desse ou daquele jogo foi manipulado? Qual árbitro merece a nossa confiança? Como explicar que a maioria dos árbitros quando trabalham em jogos entre equipes consideradas grandes e pequenas, e, que nos lances duvidosos é sempre a favor do grande? Estou apenas questionando. Mas, tem também a falta de transparência dos dirigentes que não divulgam como estão aplicando o orçamento do clube. O torcedor não é bobo, muito pelo contrário, é muito mais esperto do que pensam os dirigentes. Acredito que a culpa deve ser dividida entre todos, inclusive, mesmo que alguns não aceitem, da própria imprensa que sendo formadora de opinião passa muitas vezes uma ideia equivocada ao ouvinte. Lembramos ainda que, vários profissionais da imprensa, seja escrita, falada ou televisada são totalmente despreparados, e, que não sabem nem se expressar. Alguns foram jogadores que nunca serviram de exemplo pra ninguém, e, hoje são comentaristas dando uma de bom moço. Caiamos na real, quem tem a CBF como entidade maior do futebol, e, que praticamente todos os dias a imprensa divulga denúncias a respeito dos seus dirigentes, não pode esperar muita coisa. Aliás, Ricardo Teixeira deveria está num presidio de segurança máxima e levar um bocado de gente com ele. ESSA É MINHA HUMILDE OPINIÃO.

Anônimo disse...

andré vermelho

eu vou a noventa 90% dos jogos do américa,mas tem gente que não pode ir e isso é a maioria, os dirigentes tem que entender que não é por que o torcedor não quer ,é por que não pode, é melhor 2 torcedores pagando 20,00 cada um do que um pagando 40,00, finaceiramente é mesma coisa mais em compensação é mais gente e consequentemente chama mais gente e ai o finaceiro muda, e não adianta ver com essa historia de que já foi feito o teste e não deu certo, façam a pesquisa e vejam que os jogos que fizeram esse teste eram todos jogos sem atrativo algum, vou dar só um exemplo que foi na final de uma serie B que o america estava pra ser rebaixado ,praticamente sem chances e eles baixaram para 10,00 ingresso inteira,dizendo que o america ainda tinha chances e que depaendia da torcida e blá blá blá ...., eu não digo em um classico tudo bem,mais em jogos comums tipo o jogo passado contra o baraunas, por que não 20,00 reais inteira, minha humilde opinião socio 30,00 e o igresso inteira 20,00, mais socios e mais torcida em campo= clube com mais dinheiro.

ARENA AMERICA UM SONHO QUE VIROU REALIDADE

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