5 de abr. de 2015

Walter Nunes da Silva


A história desportiva de Walter Nunes se confunde com a sua história no próprio América. Quando menino, gostava de estudar e de jogar futebol. Daí surgiram dois amores que o acompanharam, juntamente com um terceiro – o amor pela família –, durante toda a sua vida: o Direito e o América. Estudioso e autodidata – morando em Natal, mesmo sem frequentar as aulas, concluiu o curso de Direito em Maceió –, adquiriu densos conhecimentos jurídicos e filosóficos, com acentuado verniz humanístico. A carranca fechada escondia o ser humano amável, solidário e essencialmente humano que se revelava para quem tinha o privilégio de conhecê-lo de perto. Homem culto, excelente orador, de escrita fácil, elegante e erudita, essencialmente justo, amigo leal ao extremo, desapegado dos valores materiais e dedicado à família, sentiu-se seduzido pelas idéias comunistas. Era, como se vê, um vermelho convicto: no futebol, na profissão e na ideologia. 
Conselheiro do clube, na sua passagem pelo América nunca deixou de dar, conforme as possibilidades, sua contribuição financeira e chegou, em momento de crise aguda no clube, a ponto de o presidente renunciar e ninguém querer assumir, a fazer parte de uma junta governativa. Todavia, o que merece destaque na sua história no clube, além do reconhecido amor pelo América, é o seu desempenho à frente do Departamento Jurídico. Foi chefe desse setor do clube gratuitamente por vários anos e tornou-se especialista reverenciado no Direito Desportivo, ramo do saber jurídico que até então não tinha doutrina, mas no qual, fazendo uso de sua condição de autodidata, aprofundou-se, no escopo de bem defender o América e minutar os contratos dos jogadores. Foram muitos, e renhidos, os embates na arena armada na Justiça Desportiva. Neste momento, há espaço para contar três episódios jurídicos com consequência direta nas quatro linhas, sendo um deles referente à justiça comum. Pela ordem cronológica, o primeiro diz respeito à conturbada final do campeonato de 1977, em que o América, com um time bastante superior ao do ABC, vencia em campo, porém, no final, um jogador adversário, após levar o cartão vermelho, provocou confusão generalizada, sendo expulsos os 22 jogadores. A torcida americana comemorou o título, entretanto a consolidação da conquista apenas se deu na Justiça Desportiva, com uma sustentação oral impecável feita na tribuna por Walter Nunes, com o auxílio do videoteipe do jogo. 
Em 1979 o América estava em busca do tricampeonato, o que exigiu, no final do certame, a realização de algumas contratações, dentre elas a do polêmico e saudoso artilheiro Oliveira Piauí, aqui nominado, em razão de uma entrevista, sacola de gols. Perto da decisão, devido a um crime ocorrido muitos anos antes, estava marcado o julgamento do jogador perante o Tribunal do Júri, em Teresina. Como advogado do América, Walter Nunes viajou com o pebolista – ele gostava de utilizar essa expressão em suas peças – e participou do julgamento. Resultado: Oliveira Piauí, absolvido, voltou na semana da grande decisão, jogou e marcou o gol da vitória. Era o América, uma vez mais, campeão, o primeiro tri da era do então Castelão. 
O ano agora é o de 1983. O América tinha um excelente goleiro, que marcou época no clube: Rafael. Em determinada partida, o time sendo garfado, Rafael perdeu a cabeça e, aproveitando-se do momento em que vários jogadores estavam ao redor do árbitro, desferiu um pontapé em sua excelência. Expulso, o atleta ficou ameaçado de pegar pesada sanção. A defesa foi feita por Walter Nunes com uma eloquência argumentativa na tribuna que impressionou a quem assistiu e suscitou de Laerte Dória, então treinador do clube, o comentário de que até ele, que viu a agressão, convenceu-se da inocência do jogador. 
O América para Walter Nunes era uma extensão de sua família: amava-o, defendia-o e a ele se dedicava de modo apenas comparável à forma com que, até os últimos instantes de vida, amou, defendeu e dedicou-se à família e aos amigos. 

Walter Nunes da Silva Júnior, filho de Walter Nunes da Silva


A partir de hoje o blog Vermelho de Paixão abre espaço para homenagear os personagens que escreveram a história de 100 anos do América. Envie o seu texto para sergionatalrn@gmail.com.
Com você, o Mecão é ainda mais forte. Seja Sócio!

0 comentários:

Postar um comentário

Política de moderação de comentários:
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, o autor deste blog reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal / familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.