29 de nov. de 2016

Entrevista com o goleiro Vinícius

Nome pouco conhecido pelos brasileiros, com exceção das torcidas de Vitória e Atlético Paranaense, Vinícius Barriviera é um goleiro que foi por empréstimo ao Litex Lovech, da Bulgária, na temporada 2010/11. De volta ao Brasil, assinou um contrato de um ano com o Vila Nova, de Goiânia. Depois, voltou ao país europeu e está atualmente na terceira temporada consecutiva – e quarta no geral – com o time de Lovech.
Em entrevista exclusiva para o Doentes Por Futebol, no último mês de março, o jogador de 30 anos falou sobre o futebol búlgaro, como se adaptou ao país eslavo e sobre o recente caso de corrupção no futebol envolvendo seu time, as consequências disso e outros assuntos.

A vida na Bulgária
Doentes Por Futebol (Luis Felipe Zaguini): Como você saiu do futebol brasileiro e foi para o Litex? A trajetória até chegar na Bulgária. E, por que a Bulgária? O que te motivou a tomar tal decisão?

Vinícius Barriviera: Na minha primeira passagem, vim por empréstimo do Atlético-PR, fiquei um ano e meio e fui campeão nacional. No ano passado, após mais de 15 anos, meu contrato com o CAP terminou, então surgiu a possibilidade de retornar e eu decidi voltar, pois, tanto eu já os conhecia bem, como o oposto também, e eu sabia que isso seria importante após passar um tempo sem jogar, como eu fiquei após problemas salariais com o Vila Nova-GO.

DPF: Sabemos que toda mudança na vida, seja ela qual for, requer adaptação. Como foi a sua na Bulgária? Qual foi sua maior dificuldade em se acostumar e quais são os pontos positivos?

VB: Quando cheguei ao Litex, em 2010, por empréstimo do Atlético-PR, senti um pouco de dificuldade pra me adaptar com alguns costumes búlgaros, a falta de algumas comidas que sempre fui acostumado a comer no Brasil e, principalmente, a língua e o clima durante o inverno.
Nesta segunda passagem foi totalmente diferente, pois já sabia o que iria encontrar e já cheguei falando bem o búlgaro, o que facilitou muito. O lado positivo daqui é que é muito tranquilo de se viver, há pouquíssima violência e, por morar em uma cidade muito pequena, minha filha também tem muita liberdade para brincar. Outro lado bom é com relação ao custo de vida, que é baixo.

DPF: Você já mora há 5 anos acumulados na Bulgária. O que acha de se naturalizar búlgaro e participar da seleção do país? Faria isso caso aparecesse a oportunidade?

VB: Seria interessante, claro. Pensaria com muito carinho se tivesse este convite.

DPF: Você é o único brasileiro do plantel, mas alguns outros clubes búlgaros são recheados deles, com o Ludogorets sendo o clube com maior número de brasileiros. Isso te dá uma sensação de injustiça, não ter compatriotas para ajudar no desempenho da equipe ou algo do tipo?

VB: Brasileiros fazem falta sim. Há quatro ou cinco anos, chegamos a ser sete. Isso era muito bom também fora de campo, principalmente para a minha família, pois as esposas se davam muito bem. Dentro de campo, no momento, o Litex tem nove estrangeiros, o que nos dá qualidade, além de termos uma boa amizade fora de campo.

O Litex no cenário nacional
DPF: O Litex Lovech é um dos grandes da Bulgária, mas não tem um rival local de peso. Qual dos clubes do país você, ou o clube, considera como rivalidade? Levski, CSKA ou Ludogorets e por quê?

VB: Realmente. Não temos um clássico local, mas há uma grande rivalidade com esses três clubes. A maior delas é com o Levski, pois o dono do Litex tem uma simpatia pelo CSKA, inclusive está negociando a compra do clube, já que estão passando por sérios problemas financeiros. O Ludogorets se tornou um rival forte, porém não pela sua história, mas devido às campanhas recentes. É um time novo, foi comprado por um milionário e teve uma ascensão meteórica, sendo quatro vezes campeão nacional após subir da quarta divisão, tudo isso sucessivamente.

DPF: Você se considera um ídolo da torcida ou ao menos um líder no time de Lovech?

VB: Sou o jogador mais velho do grupo, isso por si só já é um motivo de liderança, tanto que fui escolhido pelos jogadores como vice-capitão. Acho importante passar experiência tanto dentro como fora de campo, pois nosso time é muito jovem. Também sou muito respeitado pela torcida, tanto por já ter sido campeão como por não ser um jogador que traz problemas ao clube no extracampo.
Aqui a relação entre torcida e jogador é muito diferente do Brasil, eles tratam os jogadores com muito mais respeito, mesmo quando os resultados não estão vindo conforme as expectativas.

DPF: Como é a estrutura do Litex e o que o clube preza? Quais são as missões, valores e, principalmente, como funciona a academia: há investimentos nos jovens jogadores ou preferem as realidades e não as promessas?

VB: O Litex tem um estádio pequeno, porém com características modernas, pois foi reformado em 2010 para ter condições de jogar a fase de grupos das competições europeias. Além disso, possui um complexo de treinamentos para o profissional e a base, com dois campos oficiais com grama natural, um sintético e outro natural com dimensões reduzidas. O foco do clube é em revelar jogadores. Eles apostam muito nas categorias de base e tiveram muito lucro com venda de jogadores nos últimos anos.

O fracasso continental e a corrupção dentro do futebol do país
DPF: Por que você acha que os clubes búlgaros – com exceção recentemente do Ludogorets – fracassam nas competições continentais?

VB: Pelos baixos investimentos que são reflexos da crise que o país vive. Outro motivo é a falta de experiência dos jogadores. Nesta temporada, por exemplo, fomos desclassificados por uma equipe da Letônia que era inferior à nossa, porém, muito mais experiente.

DPF: O que você pensa sobre os recentes relatos de corrupção? Quais, na sua opinião, são os clubes mais envolvidos? E por que você acha que isso acontece? Fale sobre um caso que você não tolera, se possível.

VB: Sinceramente, dentro de campo é difícil de perceber algo muito claro e até complicado de falar sobre algum favorecimento. São inúmeros fatores que levam à corrupção no esporte, desde força política até propinas e interesses financeiros. O fato mais recente aconteceu no nosso último jogo do campeonato, contra o Levski, quando nosso diretor de futebol entrou em campo no fim do primeiro tempo e retirou a equipe, pois a arbitragem estava tomando decisões claramente parciais.
Contra o mesmo Levski, alguns dias antes deste jogo, pela copa nacional, a arbitragem também cometeu alguns erros contra nós e, provavelmente, isso tenha também influenciado na decisão da diretoria de tirar o time de campo, pois levantou mais suspeita ainda.
Com você, o Mecão é ainda mais forte. Seja Sócio!

0 comentários:

Postar um comentário

Política de moderação de comentários:
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, o autor deste blog reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal / familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.